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Como a educação do Brasil vai conseguir reverter esse atraso de dois anos se já havia um atraso

          de décadas em relação a outros países conforme aponta o PISA de 2018?



          Muita gente põe a pergunta de outra maneira. Enquanto alguns perguntam se pode ser recuperado o que

          foi perdido, outros questionam como será a escola no pós-pandemia. Em Portugal, está em curso um

          projeto de recuperação das aprendizagens não realizadas. Por ser próximo do Ministério da Educação, eu

          lhes disse pessoalmente que não é possível esse resgate. Essa ideia de um estudante que, ao não

          acompanhar, começa a fazer atividades de reforço é uma miragem. Tem-se que recuperar não um ano ou
          dois. Tem-se que recuperar um século ou dois. Não falo especificamente de escolas brasileiras ou

          portuguesas. Há algumas que praticam um novo tipo de educação. No cômputo geral, essas instituições

          ainda funcionam como no século 19. É terrível, pouco se aprende.



          Por que um professor fica na sala em um dia de prova? Ele está convencido de que aqueles jovens são

          desonestos. Ele fica ali para policiar. Ao estar calado, está a transmitir valores ruins. Admite-se tacitamente

          que o outro faria algo do tipo. Sou individualmente responsável pelos atos do meu coletivo.



          De volta ao tema, recuperar é um mito. O que temos é herdado da 1ª Revolução Industrial. O que quero

          dizer com isso? A escola brasileira tem de entender que não precisa ir à Finlândia buscar soluções,

          tampouco pensar em formatos híbridos, invertidos ou de blended learning, que são, sim, modelos
          fantásticos. Mas no âmbito da escola instrucionista, essas ferramentas não passam de paliativos do velho

          modelo. Ou seja, impedem que se mude. Notei na pandemia que, mesmo com aulas pela internet, o

          abandono intelectual continua. É uma crítica fraterna.




          Quais são as saídas para o Brasil após essa pandemia para termos uma educação de qualidade?



          O Brasil está onde a nova educação do mundo está a acontecer. Está aqui, no Chile, Colômbia, Uruguai,

          Argentina, China, Coreia do Sul, Índia... Mas está mais no Brasil. Sou muito grato a esse país. Chego aqui
          e começo a ler o que Anísio Teixeira e Paulo Freire estão a escrever. Há muitos talentos. A nova educação

          está a nascer no Sul. É profético.




          No Brasil, está a gênese de uma nova

          construção social e de aprendizagem, que
          substitua aquelas dos séculos 18 e 19. É

          preciso equilibrar as educações familiar,

          escolar e social. É esse conjunto. Quando me
          encontrei com Eurípedes Barsanulfo,

          Agostinho da Silva, Milton Santos, Anísio

          Teixeira, Darcy Ribeiro, entre muitos outros,

          achei-me um ignorante. Acabei despindo-me

          do meu cabralismo para decolonizar através
          da educação. É isso que proponho.



                                                                                                                             Crédito: Arthur Boccia

          EDIÇÃO 933                                                                                                                          7
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