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EDUCAÇÃO SOCIOEMOCIONAL


            EDUCAÇÃO SOCIOEMOCIONAL NA PALMA DA MÃO





           Por João Roberto de Araújo, mestre em Psicologia Social (USP), professor
           visitante na Universidade da Califórnia (Santa Bárbara); precursor da Educação
           Socioemocional no Brasil e na França.





          Embora nos últimos tempos estejamos debatendo com mais intensidade a Educação Socioemocional,
          infelizmente ela ainda não é tratada com a merecida importância. Isso se deve a algumas razões. Uma delas,
          no âmbito escolar, é a crença de que as competências socioemocionais podem “concorrer” com as

          competências cognitivas, ou seja, podem atrapalhar o processo natural de aprendizagem escolar. Nada mais
                                                                      falso. Aliás, é exatamente o oposto que ocorre. Um estudante
                                                                      com seu campo emocional bem resolvido, uma gestão
                                                                      adequada das emoções e um nível satisfatório de
                                                                      autoconhecimento tende a ter um desempenho melhor nas
                                                                      áreas mais tradicionais do saber. Além disso, não existe essa
                                                                      separação. Todas as grandes áreas do conhecimento estão

                                                                      integradas e o que as sustenta é o ser humano por trás delas.
                                                                      Se esse alicerce estiver sólido, tudo se desenvolve com mais
                                                                      facilidade.

                                                                   A segunda razão é que alguns (poucos, é verdade) ainda
                                                                   enxergam a Educação Socioemocional como algo menor, com
                                                                   menosprezo. No contexto escolar, ela seria “perfumaria”. Bem,
                                                                   inúmeros estudos mostram o contrário. As pesquisas vêm
                                                                   evidenciando que a Educação Socioemocional é fundamental

                                                                   não apenas para o bem-estar pessoal, mas para o sucesso
                                                                   profissional. Aqueles que se propõem a um autoconhecimento,
                                                                   isto é, uma reflexão sobre a própria subjetividade, têm mais ca-
                                                                   pacidade para enxergar o outro afetivamente. Dito de outro modo,
                                                                   conhecer a si está relacionado a atuar socialmente de modo mais
                                                                   decisivo, consciente sobre as escolhas de hoje que afetarão o
                                                                   amanhã.



                                                                   Morin e a Teoria da Complexidade
                                                                   Vale ressaltar que a Educação Socioemocional é alicerçada em
                                                                   pesquisas científicas, psicológicas e filosóficas. Grandes
                                                                   pensadores dedicam-se a tratar dessa questão e trazem estudos
                                                                   sérios e fundamentados. Edgar Morin, por exemplo, é um dos
                                                                   autores que sustenta os estudos da educação socioemocional.
                                                                   Com sua teoria da complexidade, o filósofo francês nos mostra
                                                                   que a racionalidade não é superior à emoção. Aliás, sequer existe

                                                                   tal dicotomia, já que somos múltiplos, diversos e repletos de
                                                                   ambiguidades.
                                                                   Para o psicólogo e jornalista da ciência Daniel Goleman, um dos
                                                                   grandes nomes da Educação Socioemocional, a inteligência
                                                                   emocional é a aptidão mestra que afeta todas as demais
                                                                   competências. E ele vai além: uma boa gestão das emoções
                                                                   pode aumentar nossa capacidade de pensar e de fazer bons

                                                                   planos. Os estudos que embasam o Novo Ensino Médio – que
                                                                   passou a vigorar em 2022 –demonstram a necessidade de
                                                                   vislumbrar o estudante como protagonista e incentivá-lo a se
                                                                   autoconhecer e gerir suas emoções.



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