Page 10 - Jornal Eletrônico - Edição 951...
P. 10
EDUCAÇÃO SOCIOEMOCIONAL
EDUCAÇÃO SOCIOEMOCIONAL NA PALMA DA MÃO
Por João Roberto de Araújo, mestre em Psicologia Social (USP), professor
visitante na Universidade da Califórnia (Santa Bárbara); precursor da Educação
Socioemocional no Brasil e na França.
Embora nos últimos tempos estejamos debatendo com mais intensidade a Educação Socioemocional,
infelizmente ela ainda não é tratada com a merecida importância. Isso se deve a algumas razões. Uma delas,
no âmbito escolar, é a crença de que as competências socioemocionais podem “concorrer” com as
competências cognitivas, ou seja, podem atrapalhar o processo natural de aprendizagem escolar. Nada mais
falso. Aliás, é exatamente o oposto que ocorre. Um estudante
com seu campo emocional bem resolvido, uma gestão
adequada das emoções e um nível satisfatório de
autoconhecimento tende a ter um desempenho melhor nas
áreas mais tradicionais do saber. Além disso, não existe essa
separação. Todas as grandes áreas do conhecimento estão
integradas e o que as sustenta é o ser humano por trás delas.
Se esse alicerce estiver sólido, tudo se desenvolve com mais
facilidade.
A segunda razão é que alguns (poucos, é verdade) ainda
enxergam a Educação Socioemocional como algo menor, com
menosprezo. No contexto escolar, ela seria “perfumaria”. Bem,
inúmeros estudos mostram o contrário. As pesquisas vêm
evidenciando que a Educação Socioemocional é fundamental
não apenas para o bem-estar pessoal, mas para o sucesso
profissional. Aqueles que se propõem a um autoconhecimento,
isto é, uma reflexão sobre a própria subjetividade, têm mais ca-
pacidade para enxergar o outro afetivamente. Dito de outro modo,
conhecer a si está relacionado a atuar socialmente de modo mais
decisivo, consciente sobre as escolhas de hoje que afetarão o
amanhã.
Morin e a Teoria da Complexidade
Vale ressaltar que a Educação Socioemocional é alicerçada em
pesquisas científicas, psicológicas e filosóficas. Grandes
pensadores dedicam-se a tratar dessa questão e trazem estudos
sérios e fundamentados. Edgar Morin, por exemplo, é um dos
autores que sustenta os estudos da educação socioemocional.
Com sua teoria da complexidade, o filósofo francês nos mostra
que a racionalidade não é superior à emoção. Aliás, sequer existe
tal dicotomia, já que somos múltiplos, diversos e repletos de
ambiguidades.
Para o psicólogo e jornalista da ciência Daniel Goleman, um dos
grandes nomes da Educação Socioemocional, a inteligência
emocional é a aptidão mestra que afeta todas as demais
competências. E ele vai além: uma boa gestão das emoções
pode aumentar nossa capacidade de pensar e de fazer bons
planos. Os estudos que embasam o Novo Ensino Médio – que
passou a vigorar em 2022 –demonstram a necessidade de
vislumbrar o estudante como protagonista e incentivá-lo a se
autoconhecer e gerir suas emoções.
10 EDIÇÃO 951